quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Visibilidade Transcidadã!


Quando Leo Kret nasceu, o preconceito e a transfobia já existiam...

Durante minha vida, enfrentei diversas situações em que minha dignidade e orgulho foram testados, em que a possibilidade de viver de forma humana foi questionada.

Entretanto, enfrentei, como outras Travestis e Transexuais, as adversidades a que somos postas a prova a cada minuto. Não baixamos nossa cabeça e sempre acreditamos que venceríamos estas dificuldades, uma vez que tínhamos as características exigidas a tantas pessoas: honestidade e humildade. Percebemos que a visibilidade que possuíamos era consequência do destaque ao meu corpo e sexualidade, por serem assumidos de forma transgressora à heteronormatividade.

A família que ocupa posição de fortaleza ou de segurança é, na maioria das vezes, a forma que a sociedade encontra, uma vez que a pressiona e a segrega, para julgar e penalizar uma Trans, excluindo-a da possibilidade de vivenciar um lar e sentimentos tão defendidos em religiões, doutrinas e filosofias.

A visibilidade cidadã que lutávamos para ser valorizada como profissional, como pessoa, como ser humano, era como uma chacota ou gracejo. Quem imaginava que uma transexual, que uma travesti poderia ocupar uma vaga de trabalho, ser uma estudante, frequentar um local que não fosse as ruas, a noite?...

Quando Leo Kret tornou-se uma dançarina, uma artista conhecida, o preconceito e a discriminação não eram tão fortes quanto antes e a força do carisma, não só nosso, como de outra Trans, como Keila Simpson, Rogéria, Bagageryer Spielberg e Paola Bracho (in memoriam) já faziam escola e discípulas! Já conseguiam ser vitoriosas frente a algumas batalhas!

Eu, enquanto vereadora eleita com expressiva votação, tendo identidade transexual, não poderia deixar essa data importante sem estar inclusa na agenda das ações do mandato.

Direitos são negados às pessoas que entendem sua identidade de gênero diferente da identidade biológica. Direito à saúde, educação, trabalho e, o direito básico e fundamental: o direito de ir e vir.

A sociedade e o Estado avançam nas discussões acerca dos grupos historicamente excluídos e oprimidos, mas a questão das transexuais e travestis ainda está alijada da sociedade, cabendo o debate apenas por uma fatia mínima dos grupos sociais organizados.

No momento em que uma Transexual ocupa a posição numa Câmara de Vereadores, eleita por uma grande vontade popular, passamos a ocupar, coletivamente, um espaço até então predominantemente hetero, tradicional. Passamos a pautar discussões e a estimular políticas públicas, tratamentos e mudanças de hábitos, inclusive oficiais, que nos leva a crer que teremos o início do que consideramos uma necessária Visibilidade Transcidadã.

Esta visibilidade traz consigo um reconhecimento e, ao mesmo tempo, uma reparação a um pensamento e prática ainda vigente, porém enfraquecida, que diz os lugares que aquelas e aqueles que transgridem devem ocupar e que não são espaços de poder.

Lamento descontentar a esta marola, mas estamos aqui para afirmar: lugar de Transexual é na política, é ocupando espaços de poder!

Leo Kret do Brasil, transexual, dançarina, Vereadora.

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