quarta-feira, 8 de outubro de 2008

A plataforma de Leo Kret: primeiro político travesti baiano é eleito




Alexandre Lyrio Redação CORREIO


Por mais que o Grupo Gay da Bahia (GGB) não reconheça, a plataforma política de Leo Kret é revestida de lantejoulas brilhantes e paetês coloridos, sim. Ao contrário do que apregoam alguns, o quarto candidato a vereador mais bem votado na capital baiana, o primeiro político transexual da história da Bahia se diz obstinado a defender a causa dos gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros (GLBT). Nascido Alecsandro de Souza Santos, Leo Kret do Brasil (PR-BA) acumulou exatos 12.860 votos, promete 'fechar' na cerimônia de posse no dia 1º de janeiro e já pensa até em ser prefeita da cidade.

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Nem bem havia confirmado a candidatura, Leo Kret teria enfrentado ataques do GGB contra a sua postura um tanto quanto espalhafatosa. 'Disseram que eu não representava a classe e que eu não tinha consciência política'. Tudo teria sido fruto do temor do presidente do grupo e também candidato, Marcelo Cerqueira, em perder a preferência dos gays nas urnas. 'Ele estava com medo que eu roubasse os votos dele', acredita. Depois da disputa, com pouco mais de 2.655 votações, Cerqueira prefere a diplomacia. 'Ela é jovem e precisa ser orientada, mas nos colocamos à disposição para apoiar o seu mandato'.

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A primeira dissensão política não chega a afetar a 'afetação' característica de Leo Kret. Agora, vitoriosa, quer provar que, apesar de não ter o segundo grau completo, pode fazer muito pelos que confiaram no seu (ops!) 'taco'. 'Não precisa entender de política. Basta saber quais são as necessidades das pessoas'. Uma das suas propostas é regulamentar a lei de combate à discriminação, que estaria parada no município há 11 anos. Leo Kret também promete defender os artistas da axé e pagodeiros.
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Mas de onde vem esse fenômeno da agora transexual política soteropolitana? Para os que não sabem, a 'danada' é dançarina do grupo de pagode Saiddy Bamba. Nos últimos anos, virou celebridade nas noites do subúrbio ferroviário de Salvador. A 'Dançarina do Povo', como é conhecida, garante que não vai deixar os palcos por causa da carreira política: 'Vou continuar a mesma até no nome'. Nome, aliás, que une parte da sua alcunha de batismo, Leo, ao 'Kret', de cretina, que, em bom 'baianês', significa gente ouriçada, afetada mesmo. Difícil é defini-la sexualmente. Travesti? Transformista? Transexual? 'O que posso dizer é que durmo e acordo como uma mulher'.
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'Que é Leocrete?', indagou, ainda em 2006, o jornalista Pablo Reis, responsável por apresentar a dançarina de pagode ao público comum, em um perfil completo sobre a garota 'fechação'. De qualquer forma, ela vai logo deixando claro: entre ser chamada de 'vereador' e 'vereadora', prefere a segunda opção. Disparado.
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Ontem, nas ruas, Leo Kret percebeu o que isto significa. Enquanto desfilava com top preto, calça Chá Chá Dum Dum e bota extravagante, a nova 'vereadora' não só arrancava manifestações calorosas como ouvia pedidos dos mais diversos tipos. Pernambués, seu bairro de origem, praticamente parou. E é assim, na campanha do corpo a corpo, que Leo Kret quer sentar na cadeira mais cobiçada do Palácio Thomé de Souza. 'Quero ser prefeita, sim. Por que não?'.
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Posse na Câmara será com tailleur e scarpin
Uma pergunta não quer calar o eleitor, por mais homofóbico que ele seja: com que roupa Leo Kret vai assumir o seu posto na Câmara de Vereadores de Salvador? 'Saia ou paletó e gravata?', questionou um ouvinte de uma rádio de grande audiência.
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Com alma feminina 24 horas por dia, Leo Kret não seria diferente por estar na mais antiga Câmara do país. A roupa escolhida para estrear no plenário caberia perfeitamente em legisladoras como Vânia Galvão, Tia Eron ou Andrea Santana, eleitas como ela. 'Que tal um tailler comportado, uma calça de linho e um sapato scarpin?', entregou.
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(Reportagem publicada na edição de 07/10/2008 do CORREIO)
Leo Kret mostra sua plataforma (Foto: Paulo M. Azevedo)



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